O Dia Nacional de Combate ao Fumo, instituído em 1986, foi criado para reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais e de saúde pública causados pelo tabaco. O dia 29 de agosto foi escolhido para promover a conscientização sobre os benefícios de abandonar o hábito de fumar.
No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o cigarro ainda provoca 174 mil mortes por ano e gera 153,5 bilhões de reais em custos. O tabagismo é a principal causa do câncer de pulmão, responsável por cerca de 85% dos casos. As vítimas não são apenas os fumantes. O fumo passivo é um fator de risco bem estabelecido para o câncer de pulmão.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição prolongada à fumaça do cigarro aumenta em até 30% o risco da doença em não fumantes. Especialistas afirmam que a fumaça do cigarro contém mais de 7 mil substâncias químicas, das quais pelo menos 70 são cancerígenas.
De acordo com o cirurgião torácico do Centro de Tratamento Oncológico (CTO), Dr. Iury Burlamaqui, o câncer de pulmão surge a partir da proliferação de células geneticamente modificadas, do trato respiratório, elas vão proliferando e aumentando de tamanho e assim gera os tumores. “Essas células podem se espalhar pelo corpo, por vias de disseminação, as mais diferentes possíveis, principalmente pela via sanguínea e pelo tecido linfático”, acrescenta.

Dr. Iury Burlamaqui – Cirurgião torácico
Um dos fatores de risco isolado para o desenvolvimento do câncer é o tabagismo, considerando tantas exposição ativa, ou seja, de quem fuma, quanto a exposição passiva de quem está perto de quem fuma, cerca de 85% dos casos diagnosticados estão associados ao consumo do tabaco.
Burlamaqui explica que existem dois tipos de câncer de pulmão: o de pequenas células e o de não pequenas células, que variam conforme o prognóstico. “O de pequenas células é uma modalidade extremamente agressiva, em que, infelizmente, o prognóstico do paciente é muito ruim. O câncer de não pequenas células se subdivide em três tipos de tumores: o carcinoma espinocelular, o adenocarcinoma e o carcinoma de grandes células. Cada uma dessas doenças vai ter um prognóstico e uma forma de apresentação diferentes.”
“ É importante também ressaltar a exposição a agentes químicos, como asbestos, arsênicos, em determinadas atividades ocupacionais. Hoje, tem-se o prognóstico entre 17% a 29% da Organização Internacional do Trabalho de pacientes que desenvolveram câncer de pulmão relacionado à exposição ocupacional. É relevante pensar também, que isso vai depender do tempo de exposição e do ambiente de trabalho. Se é protetivo ou não em relação a esses riscos. É muito importante também darmos ênfase à questão da poluição do ar. Hoje temos cada vez mais menos saneamento básico, menos cuidados na dispersão de ar poluentes. Isso pode também gerar um risco maior de populações de determinadas áreas desenvolverem ou não determinados tipos de câncer associados, incluindo o câncer de pulmão.”
O uso de vapers pode ser ainda mais prejudicial
Atualmente o uso de cigarros eletrônicos (vapes) está em crescimento no Brasil, especialmente entre jovens, com um aumento de quase 600% em seis anos, atingindo 4 milhões de usuários adultos em 2024, segundo dados do Inca. O cirurgião destaca que apesar de ser comercializado como uma alternativa mais segura ao cigarro, o vaper não é inofensivo e pode ser ainda mais prejudicial especialmente para os jovens. “Os principais motivos são altas concentrações de nicotina. O vaper pode conter níveis de nicotina superiores ao do cigarro comum, que pode levar até a independência mais rápida e intensa, onde afeta o desenvolvimento cerebral dos jovens, prejudicando a atenção, o aprendizado e o controle desses impulsos.”
Iury Burlamaqui argumenta que o vapor gerado pelo aquecimento do líquido contém substâncias tóxicas como o formaldeído e a acroleína, que são carcinogênicos. Além disso, a inalação de partículas ultrafinas pode causar inflamação nos pulmões, conhecida como ivário, uma doença grave que pode levar à morte. O vaper surge também como porta de entrada pro vício no tabagismo tradicional. Estudos mostram que o uso de cigarros eletrônicos na juventude aumenta significativamente a probabilidade de se tornarem fumantes do cigarro convencional. “Então é crucial desmistificar a ideia de que o vape é seguro, pois ele representa uma ameaça séria à saúde pública e cria uma nova geração de dependentes”, complementa.
A universitária, Jennifer Lobato conta que a primeira vez que utilizou o cigarro eletrônico foi no carnaval de 2020. “Na época estava na moda, os meus amigos me ofereceram, por curiosidade eu experimentei, depois cheguei a comprar dois cigarros eletrônicos na mesma noite. “Após isso, eu não consegui mais parar de usar, independente de ir ou não para a festa. Eu uso todos os dias, desde a hora que acordo até a hora de dormir. Sempre estou usando, mesmo quando dirijo, estou na faculdade ou fazendo meus afazeres diários. Uso também sozinha, quando estou com meus amigos, e inclusive todos eles usam diariamente.
Diagnóstico e prevenção
O cirurgião torácico diz que uma das formas de prevenção do câncer de pulmão é o diagnóstico precoce da doença. “ É uma das ferramentas mais poderosas para combater a alta mortalidade associada ao tabagismo, a maioria das mortes por doenças como câncer do pulmão ocorre porque a detecção é feita em um estágio avançado quando a doença não tem mais cura. A principal estratégia de diagnóstico precoce é o rastreamento que consiste em realizar exames em pessoas assintomáticas mas que fazem parte de grupos de alto risco. Para o câncer de pulmão, por exemplo, o rastreamento com tomografia computadorizada de tórax anual tem se mostrado eficaz para a detecção de tumores em estágios iniciais, o que aumenta significativamente a chance de cura.
A implementação de programas de rastreamento para fumantes e ex-fumantes de longa data, combinada com o acesso de exames, facilita os tratamentos e isso pode ter um impacto enorme. “Em grandes séries de estudos, essa alternativa já reduziu a mortalidade em torno de 20%. Ainda temos o desafio de conscientizar a população de médicos sobre a importância do rastreamento, além de garantir que essa tecnologia se torne acessível para a população, finaliza o cirurgião torácico.
Gabrielle Nogueira | Front Saúde







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